O LIMIAR DA SOLIDÃO
Acordei hoje com mil planos para
o dia, mas a primeira notícia que soube ao acordar foi que uma amiga acabara de
falecer. Pronto, tudo foi mudado num piscar de olhos, o dia se tornou
diferente.
Agora estou a pensar no limiar da
solidão, a perda de uma pessoa querida, a saudade, a falta, o vazio não tem compreensão
que caiba a dimensão dos sentimentos nesta hora.
Só o tempo –enquanto vida- é
capaz de promover uma acomodação para a alma.Pois só ele é o instrumento da
vida que alavanca os pensamentos, as ações, e as atitudes.
Eu não falo em morte, pois é o
concreto diante da vida, pois tudo que tem nascimento terá morte. Eu falo da
falta e da saudade que ficam entre as pessoas, principalmente daquelas da
vivência diária, os familiares e amigos mais próximos. E a solidão, um estado
que gera angústia, que nos coloca diante de portas, pode ser de entrada ou de
saída, mas que de alguma forma nos aponta chaves para abrir mundos, para
explorar mundos, para vivenciar o conhecido e o desconhecido. Mundos que nos
faz propor perguntas dos porquês das coisas, e para as quais não damos e nem
temos respostas.
Flávio Gikovate, que gosto muito,
diz que a solidão é boa e que devemos ficar sozinhos de vez em quando... e que
ficar sozinho não é vergonhoso. Diz que ficar sozinho nos dá dignidade, nos faz
estabelecer um diálogo interno e descobrir que temos forças. E mais, que a
harmonia e a paz de espírito são encontradas dentro de nós mesmo.
Pensando bem, a solidão é uma
postura solitária diante da vida. Só acontece quando nos deixamos conduzir por
acontecimentos ruins, ou fatos inusitados, inesperados em nossa vida, ou então
quando nos propomos, de forma saudável, escolher a solidão para buscar
caminhos, vias de acessos para mudanças que queremos fazer em nossa vida, pode
ser até um desapego, um desaprender, um desencontro.
Quando me refiro a pessoas que já
fizeram a viagem de retorno, eu gosto de falar da fé que se deve ter em Deus
para ouvir com o coração as respostas mais enigmáticas do cósmico, de Deus
mesmo. Só com fé somos capazes de captar mensagens e acomodar os sentimentos
diante do que se pode chamar mistério. Ficar só, ou buscar a solidão como
método de reencontro de respostas nos aproxima e nos transforma em ser
participativo do mistério divino. É preciso ter fé, embora com solidão. É
preciso ficar só, embora do seu jeito. Esse é meu jeito de ser. O seu, qual é.