Aí eu apanhei aquela caixa de fotos, cartões, bilhetinhos, recados, avisos
e convites e comecei a reunir na minha sala, na minha mesa, os amigos,
parentes, vizinhos e todos aqueles que de algum modo estão e estiveram na minha
vida, na minha história, na minha memória.
Pensei, um dia sentiremos saudades! O meu dia foi hoje e vários outros que
se sucederão, até que eu termine de organizar meu álbum, meu book, minha caixa
de saudades.
Percebo nas fotos rostos marcados pelo tempo. A nostalgia é companheira. E
coloco-me a viajar no tempo através daquelas fotos, daqueles cartões, cartas e bilhetes
e eu organizo um desfile na memória.
Não poderia ser de outra forma, mas quem chama a atenção no desfile é
minha terra, velha querida Passagem Franca.
Quando na primavera de minha infância degustava da sombra de frondosas
árvores, cajueiros, pequizeiros e mangueirais.
Das águas límpidas da Inhuma que corria em silêncio a banhar toda a
cidade, embora anônima para muitos, mas a grandeza da natureza não precisa da
certeza da contemplação, ela existe por si só e por isso deve ser respeitada.
Então vou me lembrando dos seus caminhos, às vezes quentes, às vezes
frios, nunca vazios. Continham a beleza do hospedar a descoberta dos amores, e
que por lá ficaram, dos erros, enganos e acertos, das burradas talvez; dos
caminhos largos que faziam chegar até aquela pequena cachoeira, onde foi berço
de muitos sonhos de infância que permaneceram em sonhos, Lembranças daquele
nascer do sol na rua do Campo e do pôr do sol no canavial, que confundiram
muitas vezes o meu inocente olhar, a comparar se aquilo mostrava onde começaria
e terminaria o mundo.
Ali onde posso afirmar – avistei a felicidade com meus próprios olhos-
como se a felicidade pudesse ser vista, olhada e contemplada!
Passagem Franca, lugar de sonhos, e de ilusões talvez! Nos seus caminhos
também conheci, alegrias, tristezas, risos e lágrimas. Descobri paixões, amores
e amigos.
Ai continuo arquivando minhas imagens, minhas cartas, certa, contudo, de
que mesmo retornando aos teus caminhos, não poderei jamais avistá-los como
antes.
O tempo passa e só as lembranças ficam e vão rolando na memória o banho de
gamela no poço da casa do “seu” Antonio Pessoa e Didica; a Rua do Mandacaru,
com seus enigmas e segredos, onde criança não podia passar; a farinhada do
“seu” Leandro; a calçada, limpa e misteriosa de D. Matilde, própria para um
gostoso e animado “jogo de pedras”; da velha corrente do “seu” Pedro Moreira;
da chegada do Pe. Vicente(saudades eternas) em Passagem Franca; da Praça da
Maria Paé, um monumento, que jamais deveria ter sido destruída; das “estórias
de trancoso”, contadas por D. Pitu; dos jogos de futebol, no campo que ficava
em frente a casa do “seu” Antonio Correia. E são tantas as lembranças!
Lembro-me muito bem da Igreja Matriz de São Sebastião; da praça da Igreja,
lugar onde muitos amores inocentes começaram e acabaram; das missas e novenas
na Igreja ao som inigualável do Coral de mulheres, cujas vozes, ainda,
permanecem na memória.
Hoje eu quero reunir os amigos no tapete de minha sala para celebrar a
saudade e colocar mais fotos no álbum da
história, da eternidade, reverenciando as aulas no Colégio Estado do Paraná, das
inesquecíveis professoras Clóris, Zila, Jacira e da arteira Raimunda do Zé
Alfredo que ensinou a costurar destinos e a bordar sonhos, assim como tantas
outras.
Hoje vivemos o que amanhã se tornará lembrança, quem sabe, com muita
saudade.
A juventude ainda corre em nossas veias, e vem chegando outros luares e
quem sabe plantando amoras e construindo lembranças.
Finalmente, a memória de uma infância inconfundível do primeiro amor, do
sorriso como o melhor ingrediente de todos os sabores da vida.
Saudosa, sim. Triste, não!
Esse é meu jeito de ser. Saudades saudáveis! E se não fosse?
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